JORNAL VIRTUAL PROFISSĂO MESTRE – Ano 7 Nº 124 – 03/07/2009
Lá em casa há livros, na escola também. Na biblioteca então, nem se fala. Mas estão empoeirados, esquecidos. Por quê? A situação que se apresenta hoje não é muito diferente a de alguns anos atrás. Quando estava na 5ª série, minha professora nos indicou (leia: mandou) a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. A única coisa que ficou guardada em minha memória foi a de me sentir uma analfabeta, pois oitenta por cento do que lia não entendia. Havia umas palavras complicadas que não faziam parte do universo cultural de uma garotinha de 11 anos. E saiba você que, na época, meu conhecimento vocabular, como o uso do pronome enclítico - peguem-no, socorram-me – era empregado também na oralidade. A prova disso está nos diálogos de desenhos animados Flintstone e Manda Chuva que passavam na televisão já naquela época. Para me livrar da obrigação e fazer jus ao dinheiro gasto por meus pais, eu pulava páginas, capítulos, corria para o final da obr a na tentativa de deduzir algo. Que desespero!Hoje, apesar de o mercado livreiro oferecer uma variedade de gêneros mais condizentes com a faixa etária e interesse dos jovens, os livros continuam nas prateleiras. Vamos pensar sobre o assunto.Uma das causas desta aparente falta de interesse reside no mesmo ponto em que eu, no meu tempo de infância, me deparei: vocabulário desconhecido.Quando o leitor desconhece uma ou outra palavra pode inferi-la apoiando-se no contexto em que ela está inserida, mas quando são muitas... ah, só com orientação. Trocando em miúdos: você sabe o significado de condizente, deparar, residir, inserir e contexto, neste contexto? Pois é. Para você, leitor desta revista, deve ser baba, manero, mó boi, mas, para o jovem, essas palavras não fazem parte de seu universo cultural da mesma maneira que baba, manero e mó boi não fazem parte do universo cultural de um adulto.Agora, vamos a outro ponto. Pegue um dos gibis de Maurício de Souza que tenha mais ou menos cinco anos e o dê a um pré-adolescente. Os temas tratados nas histórias são os mesmos vividos pelo consumidor da época: há referências a bandas, gírias, acontecimentos importantes como copa, nome de jogadores, de políticos que, passados cinco anos (e isso é muiiiiito tempo para um jovenzinho), nada disso tem sentido. A dificuldade, nesse caso, não é mais o desconhecimento do vocabulário, mas o conhecimento de mundo que chamamos de conhecimento prévio da situação retratada naquele contexto. E você pensou que dar aqueles gibis velhos de sua coleção faria de seu filho um letrado..., assim..., na maior! Hum! Não digo que seria nula a aprendizagem, mas que ele iria olhar para a sua cara com uma baita interrogação, ah isso iria! Para que o nosso filho ou aluno não passe por essas dificuldades, pai ou professor pode abrir mão de algumas estratégias: ler com ele parando nos trechos que oferecem dificuldade de interpretação; buscar no dicionário palavras que ambos desconhecem e relacioná-las ao dia a dia; contar coisas sobre o momento descrito. Pai e filho, professor e aluno trocam experiências, ampliam seu universo cultural e passam a entender o modo como o outro vê (lê) determinada situação. Uma autêntica troca de experiências. Dá trabalho? Dá, mas o fruto colhido é muito gratificante. Tendo pai ou professor como leitor-modelo, estas estratégias ativadas durante a leitura poderão ser utilizadas quando o jovem estiver sozinho. E é isso que todos nós queremos formar, um leitor independente.
Grace de C. Gonçalves
Lá em casa há livros, na escola também. Na biblioteca então, nem se fala. Mas estão empoeirados, esquecidos. Por quê? A situação que se apresenta hoje não é muito diferente a de alguns anos atrás. Quando estava na 5ª série, minha professora nos indicou (leia: mandou) a leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis. A única coisa que ficou guardada em minha memória foi a de me sentir uma analfabeta, pois oitenta por cento do que lia não entendia. Havia umas palavras complicadas que não faziam parte do universo cultural de uma garotinha de 11 anos. E saiba você que, na época, meu conhecimento vocabular, como o uso do pronome enclítico - peguem-no, socorram-me – era empregado também na oralidade. A prova disso está nos diálogos de desenhos animados Flintstone e Manda Chuva que passavam na televisão já naquela época. Para me livrar da obrigação e fazer jus ao dinheiro gasto por meus pais, eu pulava páginas, capítulos, corria para o final da obr a na tentativa de deduzir algo. Que desespero!Hoje, apesar de o mercado livreiro oferecer uma variedade de gêneros mais condizentes com a faixa etária e interesse dos jovens, os livros continuam nas prateleiras. Vamos pensar sobre o assunto.Uma das causas desta aparente falta de interesse reside no mesmo ponto em que eu, no meu tempo de infância, me deparei: vocabulário desconhecido.Quando o leitor desconhece uma ou outra palavra pode inferi-la apoiando-se no contexto em que ela está inserida, mas quando são muitas... ah, só com orientação. Trocando em miúdos: você sabe o significado de condizente, deparar, residir, inserir e contexto, neste contexto? Pois é. Para você, leitor desta revista, deve ser baba, manero, mó boi, mas, para o jovem, essas palavras não fazem parte de seu universo cultural da mesma maneira que baba, manero e mó boi não fazem parte do universo cultural de um adulto.Agora, vamos a outro ponto. Pegue um dos gibis de Maurício de Souza que tenha mais ou menos cinco anos e o dê a um pré-adolescente. Os temas tratados nas histórias são os mesmos vividos pelo consumidor da época: há referências a bandas, gírias, acontecimentos importantes como copa, nome de jogadores, de políticos que, passados cinco anos (e isso é muiiiiito tempo para um jovenzinho), nada disso tem sentido. A dificuldade, nesse caso, não é mais o desconhecimento do vocabulário, mas o conhecimento de mundo que chamamos de conhecimento prévio da situação retratada naquele contexto. E você pensou que dar aqueles gibis velhos de sua coleção faria de seu filho um letrado..., assim..., na maior! Hum! Não digo que seria nula a aprendizagem, mas que ele iria olhar para a sua cara com uma baita interrogação, ah isso iria! Para que o nosso filho ou aluno não passe por essas dificuldades, pai ou professor pode abrir mão de algumas estratégias: ler com ele parando nos trechos que oferecem dificuldade de interpretação; buscar no dicionário palavras que ambos desconhecem e relacioná-las ao dia a dia; contar coisas sobre o momento descrito. Pai e filho, professor e aluno trocam experiências, ampliam seu universo cultural e passam a entender o modo como o outro vê (lê) determinada situação. Uma autêntica troca de experiências. Dá trabalho? Dá, mas o fruto colhido é muito gratificante. Tendo pai ou professor como leitor-modelo, estas estratégias ativadas durante a leitura poderão ser utilizadas quando o jovem estiver sozinho. E é isso que todos nós queremos formar, um leitor independente.
Grace de C. Gonçalves
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