sábado, 28 de agosto de 2010

Papel da Escola

Folha Dirigida, 26/08/2010 - Rio de Janeiro RJ
O papel da escola e dos pais na formação educacional
Paola Azevedo Há alguns anos, um tema tem inquietado muitos educadores: a participação das famílias no processo de formação educacional de crianças e jovens. Ou melhor, a falta dela. Por razões diversas, o que se percebe é que a escola tem chamado, cada vez mais, os pais e responsáveis para uma interação maior com a comunidade escolar e, em consequência, com a educação de seus filhos. Com o ingresso cada vez mais progressivo da mulher no mercado de trabalho, hoje, as mães também precisam trabalhar para arcar com os gastos da família. Com isto, a tendência tem sido a de manter os filhos mais tempo no ambiente escolar. E, com o dia-a-dia cada vez mais atribulado, o envolvimento dos responsáveis com a escola tem sido cada vez menor. Nesta lógica, não são poucos os educadores que consideram que está, praticamente sobre as instituições de ensino, a responsabilidade de educar as crianças e os jovens. "Quando os pais declinam de alguma formação, alguém tem que assumir essa responsabilidade, esse compromisso com o futuro. E a escola seria o melhor lugar", afirma Rosely Saião, psicóloga especializada em Educação de crianças e adolescentes. Para a especialista, os motivos para os pais não se apresentarem ativamente na educação dos filhos não dizem respeito, necessária e unicamente, ao fator tempo.

"Há uma dificuldade interna. Os pais estão disponíveis a comprar tudo o que os filhos querem, a fazer todas as suas vontades, mas muitas vezes não estão disponíveis para ter atitudes educativas. Muitas não participam porque não gostam, porque não tem paciência, ou porque não tem conhecimento ou interesse", opina. Mas quais são os limites entre a participação da família na escola e dos profissionais da educação na formação integral de um estudante? A dúvida que paira na cabeça de muitos educadores é se seria mesmo da escola o dever de formar integralmente o indivíduo, uma vez que os pais seriam omissos, ou se cabe aos professores apenas a missão de lhes transmitir conhecimentos. O diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro (Sinepe-Rio), Henrique Zaremba, acredita que, apesar das discussões, a maioria dos pais consegue resolver essa questão de forma simples. "A família vê a escola como aliada, de maneira geral, já que ela escolhe a instituição em que seu filho vai estudar e esta é uma escolha consciente. Mas é claro que existem pais que transferem para a escola funções que não são dela. Acredito que a grande maioria supera isso e consegue educar seu filho de maneira razoável."

O educador deixa claro também que a escola pode e deve contribuir com a formação integral do aluno. Mesmo quando certas responsabilidades são, prioritariamente, dos pais, como é o caso, por exemplo, na imposição de limites. "Os pais têm determinados direitos que a escola não tem. Mas a escola pode e deve impor limites sim. Até porque, o regimento da escola inclui a disciplina." Da mesma forma, segundo o educador, é importante que os pais estejam mais ao lado das instituições de ensino, em especial no que se refere à formação ética. "Obviamente esses valores estão presentes em tudo o que a escola faz, mas a educação nesse sentido deve ser dada pelos pais e responsáveis", pondera Zaremba. O tema chegou ao Congresso Nacional. Em tramitação, o projeto de Lei 7157/10, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), propõe algumas mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A ideia é que, além dos educadores, as opiniões de quem também faz parte da escola sejam ouvidas. Onde esta participação já acontece, em geral, resultados aparecem. Ex-secretário Estadual de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita usa sua experiência à frente da Secretaria para exemplificar a importância da participação da família no desenvolvimento dos estudantes. Em sua gestão, ele implantou o Programa Escola da Família, que foi premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A iniciativa mantinha abertas, aos finais de semana, todas as escolas da rede estadual, com atividades educacionais e recreativas, sempre com a presença da família. Foram quatro anos de programa e, segundo Chalita, a diminuição da violência no entorno das escolas foi de 40% a 80% e a evasão escolar foi praticamente zerada. "Foi desenvolvido um conceito de pertencimento em relação à escola e todos passaram a cuidar e a se dedicar a ela com maior intensidade", defende Gabriel. Segundo Chalita, é fundamental que a escola e as famílias busquem atuar em parceria. "Educar é uma iniciativa que não pode ser nem só da escola nem só dos pais", destacou o educador, para quem os pais podem delegar para a escola algumas tarefas, igualmente importantes, mas nunca a tarefa da paternidade responsável e da proximidade que marcará o caráter da criança para o futuro."É preciso que os pais arranjem tempo, porque essa convivência é fundamental. A ação das duas esferas, em parceria, é a desejável. E o melhor caminho, já dizia Aristóteles, é a moderação: nem permissivos, nem autoritários, nem passivos, nem superprotetores. Nem só a família nem só a escola." Resta, então, a famílias e educadores, encontrarem este ponto de equilíbrio.

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