sábado, 28 de agosto de 2010

Plano Nacional da Banda Larga

A Nova Telebrás anunciou as primeiras 100 cidades contempladas pelo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) já em 2010.

Estão incluídas na lista tanto cidades localizadas nos grotões do Brasil quanto cidades grandes, como Campinas (SP), São Gonçalo (RJ) e Guarulhos (SP).

O critério para a escolha foram:
- Estarem situados a até 50 km da linha principal de fibras óticas do sistema de ditrbuição de eletricidade da Eletrobrás (a antiga e ociosa Eletronet).
- Municípios com baixo IDH com reduzida proporção de acessos - alguns casos nenhuma;
- A existência de programas como UCA, Cidade Digital, Telecentro, etc.

O último ponto justifica a inclusão de cidades de médio e grande porte, porque um dos objetivos da Nova Telebrás é atender as escolas públicas e governos, substituindo gradualmente seus contratos com empresas privadas na oferta de internet para a administração pública e
governo eletrônico, considerados agora como estratégicos, quase como de "segurança nacional".

A velocidade mínima do PNBL nesta primeira etapa será de 512Kbps e será oferecido ao consumidor final a partir de R$ 15. A Nova Telebrás irá vender a conecção preferencialmente a provedores particulares ou diretamente às prefeituras. Estes é que atenderão o consumidor final
dentro do preço tabelado.

A velocidade de 512Kbps parece baixa, mas a Nova Telebrás diz que está dentro da média nacional e garante que terá melhor qualidade que a oferecida pelo setor privado, porque adotará o padrão de oferta de 1 para 10 - ou seja, aquele que prevê que o megabit (Mbps) seja
dividido, no máximo, por 10 clientes. O mercado pratica uma padrão de 1 para 16 ou até 1 para 35. Isso quer dizer que os 512 kbps no padrão 1 para 10 terá performance até melhor do 1 Mbps no padrão 1 para 35.

O Governo Federal também defendeu a estratégia de "primeiro a inclusão, depois a expansão", onde uma eventual meta de acessos a incríveis 100 Mbps, como ocorre hoje no Japão, se destina ao futuro, especialmente porque a demanda surgirá naturalmente dos 94% de brasileiros que ainda não contam com velocidade nenhuma.

Na previsão do governo, esse processo de inclusão inicial deve durar de 5 a 10 anos.
Fonte: https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/ead-l

Plano Nacional do Livro Didático

O Estado de São Paulo, 26/08/2010 - São Paulo SP

MEC descarta apostila no Plano Nacional do Livro Didático
Ministério se posicionou sobre possível mudanças no programa que distribui livros didáticos às escolas
Fábio Mazzitelli - Jornal da Tarde A Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) não cogita incorporar os sistemas de ensino apostilados às compras anuais feitas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que distribui de graça cerca de 130 milhões de obras por ano às escolas públicas do País. O ministério se posicionou após ser questionado pelo Jornal da Tarde sobre possíveis reformulações no programa, já que neste ano 143 prefeituras paulistas que mantêm escolas municipais não aderiram ao PNLD. Como a maioria fez a opção para substituir o livro didático por materiais apostilados, alguns educadores defendem a incorporação dos sistemas de ensino ao programa federal.

São Paulo é o Estado com menor adesão ao PNLD, com apenas 77% optando pelos livros. No País, 96% dos gestores da rede pública aderiram neste ano ao programa, que existe desde 1985. As prefeituras que ficaram de fora do PNLD deixam de receber um material sem custo aos cofres municipais para pagar por sistemas de ensino que vendem apostilas e capacitação de profissionais da educação a preços que variam de R$ 125 a R$ 170 por aluno.

“Entendemos que o livro didático pode contribuir para a qualidade da educação brasileira porque possibilita ao professor a autonomia na escolha do seu material de trabalho, de acordo com a realidade da escola e seus alunos, ao mesmo tempo em que permite a organização do trabalho docente de forma sistemática e flexível conforme a prática do professor e os conhecimentos de seus alunos”, afirma a nota do MEC, que diz não ter recebido pedido formal de inclusão das apostilas no PNLD. “Os livros aprovados para o PNLD passam por uma rigorosa avaliação pedagógica para que sejam distribuídos às escolas públicas isentos de erros conceituais, de problemas metodológicos, preconceitos ou estereótipos, entre outras questões apontadas nos critérios de avaliação”, diz o comunicado do ministério. A efetividade do material apostilado, que estrutura as aulas por capítulos e direciona o trabalho do professor, gera divergências entre educadores. Os defensores apontam maior organização didática e garantia do ensino de um conteúdo mínimo como vantagens do método. Os críticos reclamam da falta de autonomia do professor e da escola e também questionam a qualidade das apostilas. Para o MEC, a assessoria pedagógica que faz parte do pacote de contratação dos sistemas de ensino, um diferencial deste tipo de método didático, “ já existe em todos os programas desenvolvidos pelo ministério”. Ainda de acordo com o MEC, “a questão da qualidade da educação básica é mais complexa que a simples prestação de serviços educacionais”. 77% dos gestores das redes públicas em São Paulo optaram por receber o livro didático. 96% é a média nacional de adesão da rede pública ao Programa Nacional do Livro Didático.

Papel da Escola

Folha Dirigida, 26/08/2010 - Rio de Janeiro RJ
O papel da escola e dos pais na formação educacional
Paola Azevedo Há alguns anos, um tema tem inquietado muitos educadores: a participação das famílias no processo de formação educacional de crianças e jovens. Ou melhor, a falta dela. Por razões diversas, o que se percebe é que a escola tem chamado, cada vez mais, os pais e responsáveis para uma interação maior com a comunidade escolar e, em consequência, com a educação de seus filhos. Com o ingresso cada vez mais progressivo da mulher no mercado de trabalho, hoje, as mães também precisam trabalhar para arcar com os gastos da família. Com isto, a tendência tem sido a de manter os filhos mais tempo no ambiente escolar. E, com o dia-a-dia cada vez mais atribulado, o envolvimento dos responsáveis com a escola tem sido cada vez menor. Nesta lógica, não são poucos os educadores que consideram que está, praticamente sobre as instituições de ensino, a responsabilidade de educar as crianças e os jovens. "Quando os pais declinam de alguma formação, alguém tem que assumir essa responsabilidade, esse compromisso com o futuro. E a escola seria o melhor lugar", afirma Rosely Saião, psicóloga especializada em Educação de crianças e adolescentes. Para a especialista, os motivos para os pais não se apresentarem ativamente na educação dos filhos não dizem respeito, necessária e unicamente, ao fator tempo.

"Há uma dificuldade interna. Os pais estão disponíveis a comprar tudo o que os filhos querem, a fazer todas as suas vontades, mas muitas vezes não estão disponíveis para ter atitudes educativas. Muitas não participam porque não gostam, porque não tem paciência, ou porque não tem conhecimento ou interesse", opina. Mas quais são os limites entre a participação da família na escola e dos profissionais da educação na formação integral de um estudante? A dúvida que paira na cabeça de muitos educadores é se seria mesmo da escola o dever de formar integralmente o indivíduo, uma vez que os pais seriam omissos, ou se cabe aos professores apenas a missão de lhes transmitir conhecimentos. O diretor do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio de Janeiro (Sinepe-Rio), Henrique Zaremba, acredita que, apesar das discussões, a maioria dos pais consegue resolver essa questão de forma simples. "A família vê a escola como aliada, de maneira geral, já que ela escolhe a instituição em que seu filho vai estudar e esta é uma escolha consciente. Mas é claro que existem pais que transferem para a escola funções que não são dela. Acredito que a grande maioria supera isso e consegue educar seu filho de maneira razoável."

O educador deixa claro também que a escola pode e deve contribuir com a formação integral do aluno. Mesmo quando certas responsabilidades são, prioritariamente, dos pais, como é o caso, por exemplo, na imposição de limites. "Os pais têm determinados direitos que a escola não tem. Mas a escola pode e deve impor limites sim. Até porque, o regimento da escola inclui a disciplina." Da mesma forma, segundo o educador, é importante que os pais estejam mais ao lado das instituições de ensino, em especial no que se refere à formação ética. "Obviamente esses valores estão presentes em tudo o que a escola faz, mas a educação nesse sentido deve ser dada pelos pais e responsáveis", pondera Zaremba. O tema chegou ao Congresso Nacional. Em tramitação, o projeto de Lei 7157/10, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), propõe algumas mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). A ideia é que, além dos educadores, as opiniões de quem também faz parte da escola sejam ouvidas. Onde esta participação já acontece, em geral, resultados aparecem. Ex-secretário Estadual de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita usa sua experiência à frente da Secretaria para exemplificar a importância da participação da família no desenvolvimento dos estudantes. Em sua gestão, ele implantou o Programa Escola da Família, que foi premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

A iniciativa mantinha abertas, aos finais de semana, todas as escolas da rede estadual, com atividades educacionais e recreativas, sempre com a presença da família. Foram quatro anos de programa e, segundo Chalita, a diminuição da violência no entorno das escolas foi de 40% a 80% e a evasão escolar foi praticamente zerada. "Foi desenvolvido um conceito de pertencimento em relação à escola e todos passaram a cuidar e a se dedicar a ela com maior intensidade", defende Gabriel. Segundo Chalita, é fundamental que a escola e as famílias busquem atuar em parceria. "Educar é uma iniciativa que não pode ser nem só da escola nem só dos pais", destacou o educador, para quem os pais podem delegar para a escola algumas tarefas, igualmente importantes, mas nunca a tarefa da paternidade responsável e da proximidade que marcará o caráter da criança para o futuro."É preciso que os pais arranjem tempo, porque essa convivência é fundamental. A ação das duas esferas, em parceria, é a desejável. E o melhor caminho, já dizia Aristóteles, é a moderação: nem permissivos, nem autoritários, nem passivos, nem superprotetores. Nem só a família nem só a escola." Resta, então, a famílias e educadores, encontrarem este ponto de equilíbrio.

Desenvolvimento do aluno

Folha Dirigida, 26/08/2010 - Rio de Janeiro RJ

O desenvolvimento do aluno depende da escola e da Família A relação família-escola é assunto para seminários, palestras e inúmeras publicações. Autora do livro "Escola sem conflito: parceria com os pais", Tania Zagury, filósofa e educadora, afirma que o impacto para a formação do jovem quando a instituição escolar e os pais não atuam juntas pode ser negativo. "Todo esse desenvolvimento depende tanto da escola, quanto da família. O nosso trabalho de educador está exatamente em tocar em áreas como aprendizagem, comportamento, sociabilidade, educação, fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. É preciso primeiro que a escola trabalhe com seus professores que, enquanto educadores, estão lá para educar. E educar é amplo. Abrange todas essas áreas: a coletiva, a afetiva e a relacional. O mesmo cabe aos pais", ressalta.

As crianças de hoje têm sido criadas em um ambiente bem mais liberal. Em outras épocas, seria difícil imaginar pais acatando desejos e caprichos dos filhos, alguns até mesmo com impacto no processo educacional, como a recusa em fazer deveres ou em ir à escola. A razão disto está em uma característica dos novos tempos: o sentimento de culpa pela ausência por razões profissionais. No entanto, a distância de casa, segundo Tania Zagury, não é obstáculo para os pais exercerem o papel educacional que têm. "Não é apenas a presença física. É perfeitamente possível o pai exercer uma supervisão e também sua autoridade mesmo não estando diretamente com seus filhos".

Mas, as escolas também precisam fazer sua parte. E um bom começo é reavaliar o relacionamento com as famílias. Em vários colégios, diz Tania Zagury, os pais são chamados para receber informações sobre assuntos como objetivos da escola ou a proposta pedagógica. "São assuntos normativos e muitas explicações que, muitas vezes, os pais não querem ouvir, não é interessante para eles." Não se trata de achar que temas como estes não devem ser tratados. Eles também são relevantes. A educadora, porém, acredita que, além das reuniões pedagógicas, os diretores podem chamar os familiares, com maior frequência, para tratar de temas de interesse mais direto. "Sugiro inverter o processo. Dizer aos pais o que eles querem ouvir, falar da questão afetiva. A metodologia, os trabalhos a serem desenvolvidos podem ser informados por cartas, ou de alguma forma que não exija a presença dos pais na escola", conclui Zagury.

Educação é tema de debates em encontro no Rio - A necessidade de as famílias estabelecerem limites aos jovens e crianças será um dos vários temas discutidos no 7º Congresso Rio de Educação, que acontece nesta sexta, dia 27, e no sábado, dia 28. Organizado pelo Sinepe-Rio, o evento ocorrerá no Sheraton Rio, no Leblon, e reunirá profissionais da educação e interessados no assunto para um amplo debate sobre questões variadas da área educacional. Abrindo o encontro, três conferências estão agendadas: "Saberes em Movimento", às 11h20 será ministrada pelo filósofo Gabriel Chalita. Já às 14h30, a psicóloga Rosely Saião discute o tema "Família e Limites". Encerrando o ciclo de palestras do dia, o sociólogo Demétrio Magnoli fala sobre "Convivência nas Diferenças: o princípio da igualdade perante a lei e o multiculturalismo". Para o segundo dia, a programação inclui 16 painéis temáticos, além de experientes e conceituados especialistas debatendo novas ideias para gestão escolar, aperfeiçoamento dos profissionais de ensino e atualização de práticas educacionais. Haverá oficinas pedagógicas abordando com ampla variedade questões da área educacional. Assuntos como biodiversidade, sexualidade, síndrome de Down, psicomotricidade e uso responsável da internet, serão discutidos, além de mesas-redondas sobre variados temas. A inscrição pode ser feita no site do evento.

Educação de Jovens e Adultos

> Revista Época, 19/08/2010
Ensino de gente grande
Sob o comando da pedagoga Eda Luiz, um modelo de educação de jovens adultos da periferia de São Paulo vira coleção de livros didáticos
Camila Guimarães Eda Luiz, de 62 anos, é diretora de uma escola diferente. Se não fosse por uma placa meio apagada, não daria para saber que a casa de grades marrons, varanda e janelas de madeira, muito parecida com as outras da rua residencial na periferia de São Paulo, abriga 1.500 alunos. O portão destravado leva a um corredor lateral íngreme, que depois de alguns metros se abre em um pequeno pátio com um bem cuidado jardim. O pátio, com paredes desenhadas e chão pintado de azul, não é usado para o recreio, mas em assembleias nas quais alunos, funcionários e professores tomam decisões sobre regras da escola. Apesar de ser do ensino fundamental, não se veem crianças correndo ou comendo merenda. Os alunos são adultos. Assim é a escola da dona Eda, que construiu um jeito diferente de ensinar – e que em dez anos tornou o Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do Campo Limpo num modelo eficiente de aprendizado e gestão. Dona Eda faz parte do clássico grupo de professores que escolhem a profissão por vocação. “Não me lembro de pensar em fazer outra coisa a não ser dar aulas”, diz. Aos 14 anos, já dava aulas de reforço para colegas da escola. Filha de imigrantes italianos, nascida e criada no bairro paulistano do Itaim Bibi, Eda foi “dona” de duas “escolas” quando era criança. Uma era a mesa de madeira que seu pai, marceneiro, fez para ela. Era onde recebia alunos imaginários. Depois, uma casa de madeira em cima de um pé de abacate no quintal de casa. “Eu só deixava entrar quem quisesse estudar”, diz. Pisou numa sala para dar aulas de verdade aos 16 anos, quando estava se formando no magistério, em 1966. Sempre teve dois empregos para ganhar um pouco mais. Aposentou-se na rede pública em 1998.

Acabam aí os clichês que permeiam sua carreira docente. Meses depois da aposentadoria, não aguentou os serviços de babá dos netos e voltou a trabalhar. Nesses 46 anos, dona Eda desenvolveu uma sadia intolerância aos lugares comuns da educação. Para entender o trabalho da educadora, é preciso primeiro saber como funcionam esses centros. Existem outros 13 em São Paulo, que atendem exclusivamente jovens e adultos. Vem dos alunos sua principal característica: a diversidade. No Campo Limpo, pouco mais da metade são jovens que não se adequaram às novas regras de idade do ensino fundamental ou que vieram da Fundação Casa (antiga Febem) e estão ali obrigados. Além deles, adultos de todas as categorias: tem a dona de casa, como Marilena de Aquiles, de 46 anos, que parou de estudar na 6ª série para trabalhar. Ou Carlos Arruda, de 46, impressor de rotogravura, que voltou a estudar porque a empresa onde trabalhava passou a exigir o estudo. E mais 250 alunos portadores de necessidades especiais. Todos moradores de áreas pobres e invariavelmente violentas da região.

Dona Eda conhece essas histórias de cor. “De cada um, não da média”, diz. Esse é o principal chavão que a pedagoga faz questão de desmontar. Ele tem origem nos teóricos da educação de adultos que dizem que é preciso “respeitar a bagagem do aluno”. “O que me interessa é como fazer isso no chão da sala de aula”, diz ela. “Quando eu digo que aqui aluno é o centro do ensino, é porque ele é mesmo.” E mostra a prova: os cadernos usados por professores nos últimos dez anos. São diários de classe com registros de tudo o que acontece durante as aulas. A partir desses relatos, são planejadas as aulas futuras. Um exemplo simples: em uma aula de herança genética, uma aluna de descendência japonesa contou a história de como, ao longo de gerações, sua família se misturou com outras raças. Também fez um diagrama mostrando os parentescos. O desenho ilustra outras aulas sobre o mesmo assunto. Os diários com as impressões dos alunos viraram objeto de desejo de uma editora especializada em livros didáticos. Dona Eda e sua equipe foram convidadas a transformá-los em livros didáticos, que já estão sendo usados por sete redes municipais, na Bahia, em Minas Gerais e em São Paulo. Até o fechamento desta reportagem, estavam no páreo da primeira licitação de livros para jovens e adultos do Ministério da Educação. “Além da consistência do conteúdo, nos chamou a atenção a eficácia em sua aplicação”, diz Rosimara Vianna, editora. O diagrama da família japonesa ilustra a página 99 do volume 3.

Dona Eda não é personalista. Essa eficiência é resultado de valores pedagógicos que são compartilhados por sua equipe de professores. Dos 36 mestres, 20 estão com ela há dez anos. A seleção é feita com rigor – e foge do lugar-comum dos concursos públicos: ela exige a apresentação de uma aula e há entrevistas com ela e com a coordenadora da escola. Os bons resultados também estão relacionados com a forma como as aulas estão organizadas. Elas duram duas horas e meia (e não os 45 minutos tradicionais) e são conduzidas por dois professores. O de matemática entra em classe para ensinar geometria junto com o de artes. “Nós somos desafiados o tempo inteiro, não dá para ficar acomodado”, diz Celia Santos, professora de história e geografia. Talvez o único chavão que dona Eda não tenha conseguido eliminar seja o da descrença no aprendizado de adultos. “É difícil fazer as pessoas acreditar que é possível fazer diferente.”

Analfabetismo funcional

Rede Brasil Atual, 26/08/2010
Analfabetismo funcional chega aos bancos universitários, afirmam professores
Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual São Paulo - Deficiências na educação básica levam estudantes com problemas de alfabetização ao ensino superior. Professores ouvidos pela Rede Brasil Atual sustentam que alguns alunos da rede pública estadual paulista ingressam em universidades podendo ser classificados como analfabetos funcionais. O professor universitário Anselmo Büttner, à beira de completar 40 anos de docência e autor de livros na área de administração e marketing, traça um cenário preocupante. "Eles (estudantes) não sabem escrever mesmo", responde com ar grave. "É simples ver isto, eu peço sempre: 'façam uma dissertação'. E se você ler o que vem escrito é... lamentável", detalha.

Outro professor universitário, há nove anos nas salas de aula de ensino superior e executivo de uma empresa de gestão de recursos humanos, vai mais longe. O docente, que pediu para não ser identificado, calcula que 30% dos alunos de suas turmas na universidade podem ser classificados como analfabetos funcionais. "Para eles (alunos) não existe mais acentuação, nem pontuação. Cerca de 30% dos alunos até lê mas não compreende. Eles não sabem estruturar ideias, nem se expressar", afirma. Para ele, com esse quadro há poucas possibilidades de formar profissionais qualificados. "Sem a capacidade de compreender e se expressar, o profissional vira só um 'papagaio'", avalia. "Com o sistema de progressão continuada e a vontade do governo (do estado de São Paulo) de ter estatísticas positivas sobre alunos formados, os jovens chegam à universidade com enorme deficiência (de alfabetização)", delata. Como ex-professor da rede pública estadual, Eduardo (nome completo em sigilo, a pedido do entrevistado) considera contraditória a orientação educacional do estado de São Paulo, que encampou a metodologia da progressão automática, sem a contrapartida em capacitação de professores e infraestrutura. "O mercado exige cada vez mais e as escolas oferecem cada vez menos", detecta.
Dribles - No caso do professor Büttner, a saída foi criar metodologias específicas. "Eu levo figuras e desenho no quadro o que é almoxarifado, por exemplo, para eles compreenderem", relata. "Eles não conseguem juntar as informações, não conseguem montar uma sequência, não têm base de gramática e ortografia, mas não é só. Há limitações também na capacidade de raciocínio lógico e matemático", alerta. Rosana Almeida, professora de sociologia do ensino médio da rede pública estadual paulista, pondera que o jovem com deficiências na leitura e escrita vai enfrentar sérios problemas no mercado de trabalho, não importa a área em que decida atuar. "O aluno de direito, para fazer uma peça, tem de escrever", cita. "Por isso, em algumas faculdades é obrigatório o ensino de Língua Portuguesa em todos os cursos. Já sabem que os jovens chegam sem saber escrever", informa. Büttner também é crítico em relação aos colegas professores. Apesar da gravidade da questão, ele insiste que os educadores devem se adequar às necessidades educacionais dos alunos, com estratégias que os auxiliem a compreender o conteúdo. "O problema existe e é grave com alunos da escola pública, mas eu tento levar o conhecimento ao patamar dos alunos".