sábado, 29 de agosto de 2009

UNESP - Pedagogia a distância

Graduação a distância
Elisa Marconi e Francisco Bicudo
A Universidade Estadual Paulista (Unesp) oferecerá, a partir de 2010, o primeiro curso de graduação a distância em Pedagogia de São Paulo. No vestibular que será realizado no final do ano, serão oferecidas 1.350 vagas - e, de acordo com Klaus Schlunzen Júnior, coordenador do Núcleo de Educação a Distância da universidade e professor da instituição, a expectativa é que todas sejam preenchidas, já que a demanda é enorme. O processo seletivo será coordenado e organizado pela Fundação Vunesp, que já realiza os vestibulares da Unesp; as aulas começam em março do próximo ano. Vale lembrar que há ainda outra exigência especial e importante para o ingresso: o candidato deverá ser professor em atividade, nas redes pública ou privada de ensino. “Esse é mesmo um curso diferenciado, porque só aceitará educadores que estejam atuando no mercado”, reforça Schlunzen Júnior.
A ideia de oferecer a modalidade de graduação a distância surgiu a partir da constatação de que havia uma carência de formação nessa área, cenário que se consolidou a partir de insistentes e constantes solicitações recebidas pela Unesp. Nos últimos anos, prefeitos e secretários de educação de diversos municípios do estado de São Paulo vinham procurando a universidade para pedir que fossem abertas mais vagas e criados mais cursos de formação para professores. Quando a instituição sistematizou os pedidos, identificou que a necessidade era de pelo menos cinco mil vagas. Em outras palavras, se forem computados apenas os dados fornecidos por autoridades da educação paulista, aproximadamente cinco mil professores ainda lecionam no estado sem ter a graduação em Pedagogia. Schlunzen Júnior é enfático ao afirmar que esse número pode ser ainda maior, “porque só somamos os números fornecidos pelas secretarias em seus pedidos por cursos de formação”, insiste.
A legislação brasileira, por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional, não permite cursos 100% virtuais; por isso, a nova graduação terá 40% de atividades presenciais (que incluem as aulas, a realização de trabalhos e de relatórios e também as avaliações) e 60% de iniciativas que serão desenvolvidas fora das salas de aula, podendo ser feitas em casa, em lan-houses ou nos chamados pólos, que são os espaços físicos que a Unesp oferece. Os estudantes poderão acompanhar o conteúdo das disciplinas a partir da leitura de textos e com tele-aulas, além de cumprir as tarefas sugeridas pelos professores e de trocar conhecimento por meio das ferramentas oferecidas no chamado espaço virtual de aprendizagem. Em tempo: esse espaço é um site recheado de recursos como textos, chats, blogs, vídeos, dentre outros. É a estratégia que concretiza efetivamente o diferencial da iniciativa e que faz dela um curso a distância, no sentido mais preciso da expressão.
Schulzen Júnior avalia que, mesmo com as inovações, o curso será muito parecido com a faculdade tradicional de Pedagogia, “e apenas algumas etapas serão cumpridas no ambiente virtual de aprendizado, em casa ou com o auxílio dos tutores, ou seja, os professores que ficam nos pólos”. Aliás, a presença dos tutores nos laboratórios onde ficam os computadores representa um assunto tratado com atenção pelos idealizadores do curso, já que esse contato direto permitirá não só que o conteúdo seja aprendido, mas que também as tecnologias da educação sejam utilizadas de forma pedagogicamente adequada.
Os idealizadores do curso a distância estão apostando na internet como principal canal de comunicação, ou seja, o professor-aluno vai precisar saber lidar bem com a rede mundial de computadores e com as diferentes ferramentas tecnológicas de aprendizado. E, embora o uso da internet pelos brasileiros venha crescendo, é difícil imaginar que todos os graduandos serão, necessariamente, craques em informática. As dificuldades e os estranhamentos dos educadores com a web, aliás, são conhecidos. “Por isso é que as primeiras atividades do curso serão voltadas para a capacitação dos alunos ao uso das tecnologias educativas, e os tutores terão um papel importante também nessa dinâmica”, antecipa Schulzen Júnior. O coordenador completa: “Esse é um curso de pedagogia, e o objetivo final é que os professores aproveitem esses recursos nas aulas que ministram. Temos a expectativa de que gerações mais educadas para a informática e a tecnologia surjam daí, pois serão ensinadas por professores mais bem capacitados nesse sentido”.
Essa preocupação com a experiência de sala de aula que o aluno do curso deverá ter foi outro fator que integrou a concepção da graduação, ajudou a pensar o perfil das atividades que serão oferecidas e desenvolvidas e certamente valerá pontos nas avaliações. “Nosso aluno é diferenciado, afinal já é um professor há 10, 15 anos, e tem um conhecimento que vem da prática. Essa característica será respeitada e valorizada. A graduação vai somar a essa vivência em sala as teorias que um educador deve conhecer”. Segundo ele, o curso foi muito bem pensado e idealizado e pretende formar pedagogos e gestores de escola. O professor da Unesp garante ter certeza da qualidade da iniciativa, até porque sabe que as instâncias universitárias responsáveis por conferir esses resultados estão bastante atentas à nova modalidade de graduação e irão acompanhar muito de perto a primeira turma até que ela se forme, 40 meses depois.
Os idealizadores da nova proposta, também professores da Unesp, estão apostando na qualidade da formação dos alunos e, segundo Schulzen Júnior, não têm a sensação de estarem sendo substituídos por máquinas, no curso a distância. “Nossos professores fazem parte de uma universidade que produz conhecimento e inovações. Têm tem intimidade com o novo, com as novas condições, criações e tecnologias, e encararam a graduação virtual como um desafio instigante”, defende.

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